Pequena Amplitude é uma extensão da minha voz e dos meus pensamentos porque nem sempre temos tempo e oportunidade de falar o que pensamos ou de ser quem somos.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Drosófilas ou tartarugas


Preciso explicar que este texto não é meu, mas é de um escritor muito talentoso, Evandro Ferreira, meu marido.


Os leões não se preocupam com o tempo, até que o seu reinado acabe. Os elefantes só se lembrarão dele quando for a hora de se afastarem da manada para lhe garantir a proteção contra os predadores. Os macacos se divertem. Algumas cigarras aguardam por quinze anos até a sua festa de debutante e morrem duas semanas depois. Uma mosca drosófila nem sabe o que é tempo. Só os seres-humanos se digladiam com os ponteiros.
O mais interessante é que até certo ponto de suas vidas são como macacos e o tempo pouco importa diante dos inacreditáveis médios 110 anos que poderão viver. Há quem diga que as tartarugas vivem mais, mas o que incomoda o homem é que elas sempre têm a mesma cara, não demonstram quaisquer sinais de envelhecimento até que em um belo dia, simplesmente não acordam. Para o homem basta sentir saudade de um brinquedo antigo ou de, Deus me livre, encontrar uma ruga ou um cabelo branco que tudo vai para o espaço.
Desse dia em diante, o copo que era, até então, meio cheio, começa a ser visto como meio vazio se esvaziando. Do meio para o fim é que os cabelos caem e se passa a temer a morte e não viver a vida. Chocolates a menos e muitos, muitos trocados a mais para a indústria cosmética. E o medo que era de morrer jovem passa a ser o de envelhecer demais.
O tempo chega aos homens como o grande senhor. O relógio confirma que depois dos trinta os dias parecem ser sempre de inverno, espremidos pela noite, passando mais depressa. As avós afirmam que os anos chegam e passam mais rápidos hoje que na época delas. Pode ser que, depois dos sessenta, a contagem do tempo deixe de fazer sentido, só isso.
Enfim, talvez, de tudo, o mais certo seja classificar o homem o tempo não pelo que falta, mas pela qualidade do que já viveu.

Emptiness


There’s no doubt about the heart of human beings. How gullible it is!
Sometimes it can be so hard, so late to forgive, so difficult to accept… But at the same time it can hold an illusion so easily, it can be fooled by anything that it needs to listen to…
People have a lot of beliefs: all kinds of gods, the power of the stars, the power of the mind, other people who can read their destiny, stones… that’s true! They believe in stones!
And there are some who just believe in love, love only like a romantic bond. If they are not in love, they are not living, they don’t have a reason for that. It is so dangerous to put your whole life in a lover’s hands, because the lover is also a human being, a person who can be deceived and even accidentally break your heart sometimes…
They need desperately something to believe in, a hope for their lives, their superficial lives…
It is getting more common each day to commit suicide, people don’t hesitate in putting an end to their lives because of problems they are facing and they think there’s no way out, no possibility to fix things up again…
I can’t help feeling sorry for these people. What is happening to them? What is happening to us? I wonder why and I can just consider one possibility: emptiness…
I hope not to get so empty... Actually I am afraid of losing my sense and my faith. I don’t want to get to this point. And that’s why I decide to believe in God.
God. Some may say He doesn’t exist, that it is impossible to consider such a powerful creature who has created everything in the world, specially us, the complex human beings. For them it is easier to believe in evolution. The theory which says that we are just a consequence of time and explosions. Hey, honestly, which is more unbelievable?
Is that so difficult to accept Him? What kind of harm can a prayer cause to anyone? It’s not bad to imagine that you have a friend who can read your thoughts and help you to solve problems, to sleep better, to live…
“God, please, help me to be a good person. Don’t let my poor heart be deceived by any illusion. Don’t let me hurt people, but help them. And help me to live my life in the best way, not to regret things that I should have done when there is no time anymore. Give me health, strength and love. That’s what I ask you. Amen.”

Natais


- Ficou linda, né, mamãe?
- Claro que sim, filha.
Ela estava encantada olhando para a árvore de Natal que tinham acabado de montar. Não conseguia conter seu entusiasmo e sua ansiedade. Mas o Natal ainda estava tão longe... Mamãe havia dito que faltava mais de um mês.
- Mãe, será que o papai vai gostar?
Mas a mãe tinha o pensamento longe, imaginando a ceia que, neste ano, seria em sua casa. Podia ver as cunhadas e as primas esnobando seu cuidado na preparação da festa:
- Hum! Eu acho que esta salada está sem sal!
- Que bonita a decoração, Ana! Pena que os móveis já estejam meio velhos... Acho que vocês precisam de outro sofá...
Ah, que vontade que ela tinha de responder: “Foi o pestinha do seu filho quem causou esse estrago!”
- Mãe!
- Hã? Ah, sim, filha...
- Puxa! Eu não vejo a hora de comemorar o Natal! Vai ter muita comida gostosa, muitos priminhos para brincar comigo, muitos presentes! É a melhor época do ano. E pensar que eu nem tenho que ir para a escola! Podia ter Natal todo mês, né, mamãe?
Ela pensou em algo como “Deus me livre! Uma vez por ano já é muito...”, mas assentiu à filha com a cabeça.
Dali a pouco a menina ouviu a porta se abrir e saiu correndo para encontrar o pai.
- Papai! - ela disse, agarrando suas pernas – Venha ver a árvore que nós montamos. Não está linda?
- Oi, filhinha! – ele disse, apertando a bochecha da filha com um beijo – Uau! Ficou linda mesmo! Parabéns!
Depois disso, beijou a esposa rapidamente, sem dizer nada. Então foi para o quarto tirar os sapatos, pensando na ceia de Natal: “Meu Deus, já é quase Natal de novo! De que adianta receber o décimo terceiro se a gente tem que gastar tudo com festa e presentes? Para a esposa, para a filha... Bom, pelo menos eu só tenho uma, mas ainda tem os sobrinhos, os amigos secretos... E, é claro, a Ana não vai querer que ninguém passe o Natal de roupa velha... Talvez até me peça para reformar o sofá... Ainda bem que o Natal é só uma vez por ano!”

How old would you be?


So, what does “age” mean? A proof of time waste? A countdown to the end? Are you really aged as the number of years of your life? Why do we classify people using this silly number? Does it say anything about anybody? If there was a second chance, how old would you be? How many decisions would you have taken? How much time would you have spent in different things? Unfortunately, there isn’t a second opportunity, but life is not over yet. Starting today, maybe you have time to accomplish what you want to. Maybe, because we don’t know when the end will come. But if you never start, of course you’ll never get to the end. There isn’t a choice, or you do, or you die without doing… This is hard, but true… Time doesn’t wait for us, doesn’t heal wounds, just hide them… Yesterday is just a memory, tomorrow is uncertain, but today, today is present. It’s your present. Open it and do the best you can, because you’ll never have it again.

Felicidade


Se sou feliz? Bem, eu diria que sim. Tenho saúde, família, amigos e o dinheiro do ônibus... Não sei exatamente no que a felicidade consiste, mas sei que não se pode encontrá-la quando se passa todo o tempo da vida a sua procura. E talvez as pessoas que a encontrem passem um bom tempo sem saber que a possuem, mas isso não as impede de serem felizes mesmo assim. Talvez a felicidade seja mais uma decisão do que propriamente uma fase da vida. Decidir ser feliz é acreditar que a vida é mais que os constantes problemas que temos que resolver e comemorar cada pequena conquista que só é possível a custa de cada pequeno ou grande esforço que temos que fazer enquanto vivemos. O início de um dia pode ser tanto um recomeço para uma nova tentativa ou a reprise de um dia vazio. E uma porção de dias vazios não leva ninguém à felicidade. Existe muito mais na vida do que acordar cedo, trabalhar o dia inteiro, assistir TV e ir para cama novamente lamentando pelo dia seguinte. É necessário saber aproveitar o dia, ainda que seja no trabalho, quando se está de mau humor, quando se tem uma árdua tarefa pela frente. É necessário aprender a viver cada momento como se fosse único, ou ainda, último. Porque feliz ou não a vida de todos nós um dia chegará ao fim. E aí será tarde demais...